Então gente, hoje me inspirei para falar sobre um dos assuntos que mais me fascinam em cães: o medo. Como o medo surge e como (e quando) pode ser superado. Faz parte das emoções mais importantes dos cães e, provavelmente, uma das mais poderosas.
O medo não é uma das emoções mais fáceis de diagnosticar. Não é tão aparente e claro quanto se supõe. É necessária uma calma avaliação e muita observação para responder 2 questões essenciais quando um cão não age como esperaríamos: qual emoção motiva aquele comportamento? o que dispara aquela emoção?
Muitas vezes, algumas pessoas confundem emoções. Confundem medo até com alegria. Consideram que o cão está animado, excitado, feliz, quando na verdade está MORTO de medo. Outras vezes consideram derivada do medo um comportamento que tenha outra causa qualquer. Algumas características posturais são bem típicas do medo, mas dependendo da raça ou situação, podem ficar mascaradas.
A verdade é que o medo é um mecanismo de defesa importante para todos os animais, ele preserva a vida. O medo, como indicam alguns estudos, pode ser inato, passado de geração em geração, sendo nesse caso uma característica da espécie ou da população (ex: medo de predadores). Mas o medo também pode ser resultado de uma experiência vivida. Nesse caso, a experiência foi estressante para o animal e o marcou, a ponto de provocar uma espécie de "cicatriz comportamental".
Algumas vezes, essa cicatriz gera um tipo de "comportamento padrão", onde, a forma em que o cão conseguiu resolver aquela situação será a que ele sempre optará para se ver livre novamente. Chamamos esse comportamento de esquiva. Agora, nem sempre esquivar é sair correndo e se esconder! Por exemplo, um cão bem pequenininho que tem medo de visitas porque essas costumam pisar-lhe, pode fazer uma grande festa, saltar, latir, chamar atenção. Todos entenderão como sinal de alegria e, mesmo que não seja, o importante é que receberá atenção, carinhos e depois poderá ficar no seu cantinho, sem ser pisado.
Não quer dizer que todo o cão tenha medo ao exibir aquele comportamento que acabei de descrever. Só que com um pouco de atenção é possível distinguir um cão alegre de um assustado e com medo. E é muito importante essa distinção para o bem estar do cão.
No caso da minha cadela, Pastor Alemão, ela tem diversos medos que não sei de onde se originaram nem a causa, pois ela foi adotada adulta já assim. E um dos maiores medos dela é de sacos plásticos. Verdadeiro pânico.
E para resolver medos existem diversas técnicas! Falarei sobre algumas que tentei com ela:
Flooding - consiste em apresentar ao cão o estímulo que ele tem medo diversas vezes, muitas vezes, forçadamente, até que esse deixe de ser interepretado como ruim, perde o valor. É o que geralmente fazem em relação a fogos de artifício.
Condicionamento com reforço positivo - relacionar o estímulo que faz o cão ter medo a alguma coisa que o cão goste muito, por exemplo, petiscos. Quando um cão tem medo e agride outros, vc vai dando petisco e recompensando até ele ignorar por completo e depois até achar o outro cão legal, por exemplo.
No caso da minha Ilka e seu medo de sacos plásticos, nem um nem outro jeito resolveu! Na verdade, ela já superou outros medos com as 2 técnicas, cada um em um momento. Mas com o saco plástico... nada! O medo permanecia, só com um comportamento um pouco deslocado....
Como verão no vídeo a seguir, ela está confusa com a presença do saco. Ela acha que pode surgir um brinquedo ou petisco dali, ou q de repente seja obrigada a ficar cercada por sacos plásticos, como aconteceu quanto tinha tentando tirar o medo dela antes. Mas o q ela nunca faria e não tinha feito antes, era chegar perto ou tocar um saco plástico por vontade própria. E foi isso q eu consegui, que fez ela mudar a forma que via o objeto.
A palavra chave é: brincadeira!
Como podem observar, a presença mais importante aí é do meu outro cão, o Thor. Ele é um filhotão, crio ele desde que nasceu, ele não só não tem medo de saco plástico como acha tudo uma brincadeira divertida! Então, sem ele, provavelmente a Ilka jamais se aproximaria do saco!
Aconteceram 2 coisas para a Ilka, emoções que superaram o medo. Primeiro, ela queria muito brincar, ela adora brincar comigo e com o Thor, porque adora competir com ele a minha atenção! hehehehe Além disso, ela percebeu que ele não tinha medo, e que nada acontecia com ele de ruim e, acima de tudo, ele estava se divertindo. O senso de matilha dela, tanto para competir quanto para interagir, que foi fundamental para a superação.
Além disso, ela não estava contida, nem amarrada, não estava de guia e estava em casa, do lado da piscina dela. Se ela quisesse poderia deitar e dormir, ou fazer qualquer coisa. Mas ela superou o medo e escolheu isso, não foi imposto a ela, e isso é o que considero mais bonito e inusitado nesse vídeo. Se olharem com atenção verão que, a cada vez que ela "decide" enfrentar o problema, vem reto na minha direção e dá 1 latido. No último latido, em que ela pegou firme o saco plástico e ficou com ele perto de mim, para mim marcou essa superação.
A pinha foi usada aí como uma forma de relaxar e mudar o foco, e também para "negociar" com eles para que soltassem o saco plástico, que é perigoso se for ingerido. No entanto, eu não queria usar o comando "larga" sem a troca, porque ele poderia gerar algum conflito e, se estávamos superando um medo, a última coisa que eu queria era conflito!
Atualmente, a Ilka não apenas não tem mais medo de sacos plásticos como futuca todos a procura de petiscos ou mesmo para brincar. Não se assusta maiscom o som deles e não fica mais nervosa e ansiosa ao ver um! Ou seja: criei um problema pra mim que não posso deixar mais nenhum saco plástico ao alcance dela! hahahahaha
Mas é isso, fica a dica: observe bem o comportamento do seu cão, se o que ele faz é resultado de algum medo. Se for, busque soluções inteligentes e divertidas, que minimizem o stress e o ajudem a superar!
Na dúvida, contratem um bom adestrador!
Até a próxima!
Luciana Fiuza